sábado, 21 de janeiro de 2012

Sobre... O que sou

Alguém que você precisa conhecer...
Alguém como o som de
um leve sussurro amigável,
que te predispõe quanto um perigo...
Como o gosto envolvente e sensual da traição,
Que lhe espera dentro da noite,
No reflexo de um doce olhar...
Ou na ardência apaixonada de um ultimo Beijo...
Ou na ardência angustiada
que penetra dentro de seu
Coração, e que destrói o seu
Amor...
Que consome sua paixão...
Tornando-a simples ou perversa
Sou feito de matéria imperfeita
Talvez não consiga brilhar a luz
do sol, ou me elevar às alturas
Como seus antigos amigos...
Mas sou aquele que ousou levantar
os olhos aos céus e que suspirou
de tristeza quando você partiu...
Sou parte de seu lado disforme e
deformado, aquele que ninguém
admite ter ou possuir...
Mas sou gentil e amo você...
Então permanecerei por aqui até
que tudo se acabe, até que tudo
Termine...
Ficarei até que não reste mais nada
A não ser esse pó avermelhado que
O vento arrasta, agita e sacode por
Entre as ruas mortas desta cidade
Demarcando o que será sua ultima
Solidão...
Delimitando qual será nosso fim.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Uma Noite em Claro

Estou encharcado, o vento frio faz meus lábios doerem, a garoa contínua incomoda e no asfalto úmido sinto os pneus da moto o tempo todo derraparem.
Avisto o belo bar com suas paredes de vidros ao lado do rio que serpenteia prateado e rumoreja no escuro partido pelas luzes indistintas das duas cidades. Já é noite, estaciono e desço da moto, o silêncio em volta é quase tangível, há poucas pessoas lá dentro.
Perscruto o lugar e a vejo em pé ao lado do balcão, entro. Ela é linda, seus cabelos longos estão soltos, veste um jeans escuro e uma blusa branca que contrasta com seu cabelo preto, ela me olha... Meu Deus aqueles olhos!
Me perco dentro daquele azul intenso do seu olhar... Eu me aproximo, ela faz o mesmo, ficamos assim um de frente ao outro, apenas nos observando. Numa mesa próxima há um grupo de estudantes e uma das garotas não tira os olhos de nós, percebo que a conheço foi uma ex-namorada, mas não dou a mínima era como se não houvesse mais ninguém ali, somente nós dois.
— Está todo molhado...
Ela diz numa voz carregada de culpa por me ver naquele estado. Realmente escorre agua ainda por meu corpo e de minhas roupas deixando um rastro molhado por onde entrei.
— Está chovendo muito lá fora... E de moto então... Balbucio.
— Sinto muito, eu... não queria... me desculpe. Ela sussurra.
— Tudo bem — Digo — Eu viria mesmo de pé se preciso... Sabe disso.
Ela balança a cabeça dizendo que sim, diz:
— Eu também viria por você. Ela estende a mão e toca suavemente em meu rosto.
Meu coração dispara, e com comoção em minha voz digo-lhe:
— Querida tem certeza que quer mesmo fazer isso?... Você tem tanto a perder...
Seus olhos se enchem de lagrimas e ela me abraça.
— Tenho... Ela murmura, seu rosto voltado pro meu peito, chora.
Sinto suas lagrimas escorrerem mornas em meu pescoço, ouço o som do vento e da chuva repercutindo lá fora, sinto sua respiração entrecortada e meus olhos também ficam marejados. Deus como eu a quero e lhe digo isso.
— Te quero tanto... sussurro.
Ela chora ainda mais ao me ouvir e nós nos beijamos, profundamente como se só nos restasse aquele momento. Seus lábios, sua língua, seu gosto. Memorizo em minha boca o gosto daquela paixão.
Escorre agua de meus cabelos, desce fria por minhas costas, um arrepio de frio e medo percorre minha espinha.
O beijo se prolonga, e eu poderia ficar assim pra sempre. Seu corpo lindo preso em meus braços, sentindo seus seios de encontro ao meu peito, sua boca na minha, sua respiração... Estamos presos naquele momento e corremos perigo.
— Eu te amo... Diz ela ao se afastar um pouco de mim.
— Também te amo.
Digo com convicção e ambos sabemos que nenhum dos dois está mentindo.
— Temos que sair daqui — Ela diz olhando pra fora — Eles não podem nos ver.
— Tudo bem. Concordo.
— Falei com Jessica, ela nos cedeu sua casa... Irei à frente, você põe uma música pra tocar, assim que termina-la você virá.
— Terei que te seguir... Mal conheço aquelas ruas.
— Eu sei, ficarei no carro na subida da ponte, assim que me avistar sinalize, depois é só me seguir.
Aceno que sim, ela joga seu corpo em mim e me beija de novo. Sinto a paixão novamente e percebo que estou realmente perdido, depois ela se afasta e segue rumo à saída, abre a porta de vidro lá fora o vento frio e a chuva a acolhem num prognostico inconcluso de nossa sorte. Parecem murmurar uma triste canção sobre nosso destino.
Antes de ir ela se volta e me manda um beijo com a mão, depois parte. Fico de pé observando-a ir pro carro linda como um anjo entra da à partida e sai. Olho em volta minha ex está petrificada só me observando incrédula, mal olho pra ela. Caminho pra maquina de música, insiro uma moeda e escolho Black do Pearl Jam, depois a ouço até terminar e me lanço pra fora com meu capacete na mão.
A chuva e o vento me acertam, minha roupa ainda esta molhada e o frio vêm com tudo. Subo na moto dou a partida e disparo ao encontro dela.
Não percebo o risco que vem da chuva ou dos carros que passam velozes, nem imagino no perigo que corro só por ter decidido ficar com ela. Nada importa tudo que quero esta lá dentro do carro me esperando na subida da ponte com seus lindos olhos azuis.
O vento gélido penetra e enrijece a minha pele, a viseira do capacete deixo aberta ou do contrario não consigo enxergar nada. Atravesso ruas e avenidas e por fim chego à ponte e lá na rampa avisto seu carro parado, me aproximo por trás e faço sinal com a luz do farol, ela já tinha me percebido e segue na dianteira.
Subimos a ampla ponte e começamos a percorrer sua longa extensão. Lá em cima o vento e a chuva tornam-se mais intempestivos e o frio vindo do rio castiga meu corpo. Espero não gripar no dia seguinte, pois já sinto minha garganta arder e por meu corpo correr tremores gélidos.
Sensação de sonho e de morte tão forte ao cruzar aquela ponte.
No meio da ponte a ilha do fogo, no restaurante soturno que fica nela esta tendo um pequeno show, uma banda local faz cover do snow patrol e canta Make this go on forever, ouço parte da melodia quase indistinta: The last girl in the last reason... to make this last for as long as I could… Meu Deus que vontade de parar e ficar ali no meio daquele pequeno grupo curtindo aquela música.
Minha moto trepida nas irregularidades do asfalto, sinto algo estranho na corrente, diminuo uma marcha e com meu punho faço a aceleração disparar. Meu pé direito toca levemente o freio traseiro sinto a moto estabilizar, acelero ainda mais e praticamente colo no fundo do carro dela.
Respingos d’agua acertam de cheio meu rosto, chega doer. Definitivamente moto não combina com chuva.
Frio... Muito frio.
Cruzamos a ponte e o hálito frio do rio diminui um pouco, meu corpo agradece apesar da sensação de febre e doença que se aproxima persistir.
— Amanhã adoeço — Murmuro — Hoje não...
Zona de perigo... Em que estou me envolvendo meu Deus?
O carro dela corre a toda velocidade, minha moto desliza sobre o asfalto numa perfeita sincronia de equilíbrio, velocidade e burrice. Inclino meu corpo um pouco e a sinto avançar com tudo pro lado esquerdo, depois inclino pro outro lado a maquina me acompanha numa sintonia perfeita.
Já caí uma vez de moto, nada grave, mas tenho a sensação que nunca mais vou cair.
Passamos pelo centro da cidade e o deixamos pra trás, bairros vão surgindo entre as ruas que seguimos. Casas grandes e lindas, ruas vazias, os postes e suas luzes bruxuleantes sob o toque da garoa me faz lembrar de luz de velas.
Tão efêmera.
Agora o frio e o vento parecem ser partes da mesma coisa. Sensação de estar a caminho de minha morte. À noite a minha volta parece-me sussurrar: a partir daqui não há mais volta.
Mas tudo bem, por que mesmo que houvesse eu não iria querer voltar.
Sigo por entre respingos de luz e escuridão, o sossego em volta, parece não haver ninguém. Jardins com longas árvores quase desfolhadas, praças, esquinas tranquilas e desertas. Estamos mesmo sozinhos, espero que dentro do seu carro ela esteja ouvindo uma bela canção.
Sei que a chuva e o vento interagem com sua alma calma, e que assim como eu ela sente estar cada vez mais e mais sozinha.
O bairro está deserto.
Parece que todos se foram, ou estão profundamente adormecidos. Apenas silencio, chuva e nada mais.
Entre uma esquina constituída por solidas mansões e jardins oponentes ela da sinal pra esquerda e para de frente uma bela casa de sobrado. Há uma única luz acesa na varanda na parte de cima, mas precinto que não há mesmo ninguém.
O portão automático da garagem se abre e ela entra com o carro, faço o mesmo e estaciono a moto meio de lado e um pouco atrás do veiculo. O portão se fecha, o escuro me envolve, ela acende a luz interna do carro e permanece sentada lá sem se mover.
Arrependida? Talvez sim, talvez não.
Desço da moto, retiro meu capacete e espero, sinto o silêncio me envolver e o medo se insinuar. Aguardo.
Ela, uma esfinge enigmática decidindo nosso destino ali dentro daquele carro. Fiquei perturbado, não estava bem fisicamente e minha mente era só um amontoado de emoções confusas e um forte desejo pungente me impelindo pra ela. No entanto caminhei devagar até a porta que dava acesso da garagem pro interior da casa e me sentei em seus degraus com as mãos nas têmporas. Fiquei ali absorvendo algum choque.
— Você esta bem?
Levanto meus olhos e a vejo me olhando de dentro do carro.
Fiz que sim com a cabeça, mas mantive o silencio e o deixei perdurar. Isso parece que a fez se decidir, desceu do carro e veio pra mim, segurou minhas mãos e se inclinou pra mim.
Outro beijo.
No entanto ainda o mesmo sabor que parecia me incendiar por dentro.
— Venha vamos entrar, estamos parecendo duas crianças com medo.
Colocou a chave na fechadura abriu a porta e me puxou pelas mãos. A segui quase como um autômato, paramos num corredor arejado, fitei seu rosto, como era belo e gracioso e de repente como pareceu me pertencer, não tentei conter meu impulso de toca-lo, acaricia-lo. Ela veio pra mim, colou sua boca na minha.
Senti aquele momento como algo decisivo em minha vida, pareceu-me que fui criado pra existir para ela. Algo em sua respiração chamou minha atenção, ela ainda sentia medo.
— Você está bem? Pergunto.
Ela acena que sim e me puxa pra dentro da casa, acende uma lâmpada e uma sala luxuosa e confortável materializa-se aos meus olhos. Ela se encaminha para a estante, nela um aparelho de som, ela o liga põe um pen drive e seleciona uma música. A melodia encobre o tiquetaquear de um antigo e belo relógio de parede, oculta aos poucos o som do vento e da chuva lá fora.
Reconheço a voz feminina que canta Adriana Calcanhoto, mas a música não conheço, no entanto é belíssima:
Sou sua noite, Sou teu quarto, Se você quiser dormir, Eu me despeço, Eu em pedaços, Com um silêncio ao contrário, Enquanto espero, Escrevo uns versos Depois rasgo...
Fecho meus olhos.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Envolvidos I...

Sensações...
Estive horas absorto, observando estático tudo a minha volta.
Logo o grupo retornaria e eu teria que seguir com eles... Mesmo assim fico calmo, ouvindo o rumor leve do vento que vinha do mar, trazia consigo um cheiro de chuva e o gosto salgado de sal. Seu rumor produzia sensações vagas de cântico, nostalgia e saudade. As folhas das arvores arquejam, balançam e desprendem um cheiro gostoso de mato verde que junto com a terra e o mar, pareciam serem as únicas coisas realmente vivas ali.
A praia estava praticamente deserta, no calçadão e nas ruas as pessoas iam aos pouco procurando abrigo, as primeiras gotas de chuva começam cair, acertam meu corpo, produzindo leves caricias frias e molhadas. Poderia permanecer assim parado para sempre... Sentindo aquele contato.
Num restaurante próximo um grupo de músicos afinam seus instrumentos, preparam-se para a noite que logo chegará. Dentre eles um violinista parece sentir as mesmas sensações que eu. Sozinho ele faz seu instrumento vibrar numa melodia calma, triste e serena, tudo ao mesmo tempo... Nunca tinha ouvido um lamento tão belo e triste, a música parece brotar de dentro de sua alma. Volto-me pra ele e fico escutando, mesmo a chuva, o mar e o vento, parecem serem conseqüência daquela musica e sua comoção.
O violinista fecha os olhos, dedilha as notas e as cordas de seu instrumento vibram angustiosamente sob o toque do arco. Os outros músicos param e ficam apenas ouvindo-o, a ele, ao som do vento, do marulho do mar e das gotas de chuva que caem. Duvido que durante a noite enquanto se apresentam consigam tocar algo tão sublime assim. A musica tinha algo a ver com aquele momento e assim que ele passasse ela iria desaparecer também.
Torno olhar para o mar...
O mundo azul agora estava cinza, e o vento frio era um sussurro da solidão... As ondas tornam-se mais agitadas, tempestivas, o mar assume uma tonalidade de um negror-azul com salpicos de espumas, num fluxo e refluxo intimo com a areia dourada da praia. Muitos perderam seus sonhos ali, outros deixaram levar suas vidas. Ela era uma praia romântica sim, e também mortal. Era perfeita vista de um ponto de vista estreitamente solitário.
As sombras e as gotas de chuva recobrem a cidade, envolve os seres que se abrigam estáticos, observando melancólicos, o deslizar daquele momento. Eu aspiro seu cheiro, sinto seu frio morno, a superfície molhada que encharca meus cabelos, minhas roupas, desliza fria e gelada em minhas costas.
Tão bom estar assim... Penoso também.
Pelo calçadão as luzes dos postes se acendem e projetam um ralo parco no chão de sua luminosidade. A cidade desperta para a noite que se aproxima, vivos e mortos aguardam que a chuva passe e junto com ela o torpor característico daquela espera. Queriam se embriagar, festejar e beber num envolvente murmúrio das comemorações e musicas noturna, a noite úmida em sua poesia e em seus crimes, sempre mais e mais envolvente em seus crimes. Era assim que se enfastiava que adormeciam numa loucura feroz de ódio e amor, uma paixão coletiva para o sexo e pra morte, ou toda nuance imaginativa de prazer.
Assim como eles eu também aguardava ansioso por esses momentos.