sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Envolvidos I...

Sensações...
Estive horas absorto, observando estático tudo a minha volta.
Logo o grupo retornaria e eu teria que seguir com eles... Mesmo assim fico calmo, ouvindo o rumor leve do vento que vinha do mar, trazia consigo um cheiro de chuva e o gosto salgado de sal. Seu rumor produzia sensações vagas de cântico, nostalgia e saudade. As folhas das arvores arquejam, balançam e desprendem um cheiro gostoso de mato verde que junto com a terra e o mar, pareciam serem as únicas coisas realmente vivas ali.
A praia estava praticamente deserta, no calçadão e nas ruas as pessoas iam aos pouco procurando abrigo, as primeiras gotas de chuva começam cair, acertam meu corpo, produzindo leves caricias frias e molhadas. Poderia permanecer assim parado para sempre... Sentindo aquele contato.
Num restaurante próximo um grupo de músicos afinam seus instrumentos, preparam-se para a noite que logo chegará. Dentre eles um violinista parece sentir as mesmas sensações que eu. Sozinho ele faz seu instrumento vibrar numa melodia calma, triste e serena, tudo ao mesmo tempo... Nunca tinha ouvido um lamento tão belo e triste, a música parece brotar de dentro de sua alma. Volto-me pra ele e fico escutando, mesmo a chuva, o mar e o vento, parecem serem conseqüência daquela musica e sua comoção.
O violinista fecha os olhos, dedilha as notas e as cordas de seu instrumento vibram angustiosamente sob o toque do arco. Os outros músicos param e ficam apenas ouvindo-o, a ele, ao som do vento, do marulho do mar e das gotas de chuva que caem. Duvido que durante a noite enquanto se apresentam consigam tocar algo tão sublime assim. A musica tinha algo a ver com aquele momento e assim que ele passasse ela iria desaparecer também.
Torno olhar para o mar...
O mundo azul agora estava cinza, e o vento frio era um sussurro da solidão... As ondas tornam-se mais agitadas, tempestivas, o mar assume uma tonalidade de um negror-azul com salpicos de espumas, num fluxo e refluxo intimo com a areia dourada da praia. Muitos perderam seus sonhos ali, outros deixaram levar suas vidas. Ela era uma praia romântica sim, e também mortal. Era perfeita vista de um ponto de vista estreitamente solitário.
As sombras e as gotas de chuva recobrem a cidade, envolve os seres que se abrigam estáticos, observando melancólicos, o deslizar daquele momento. Eu aspiro seu cheiro, sinto seu frio morno, a superfície molhada que encharca meus cabelos, minhas roupas, desliza fria e gelada em minhas costas.
Tão bom estar assim... Penoso também.
Pelo calçadão as luzes dos postes se acendem e projetam um ralo parco no chão de sua luminosidade. A cidade desperta para a noite que se aproxima, vivos e mortos aguardam que a chuva passe e junto com ela o torpor característico daquela espera. Queriam se embriagar, festejar e beber num envolvente murmúrio das comemorações e musicas noturna, a noite úmida em sua poesia e em seus crimes, sempre mais e mais envolvente em seus crimes. Era assim que se enfastiava que adormeciam numa loucura feroz de ódio e amor, uma paixão coletiva para o sexo e pra morte, ou toda nuance imaginativa de prazer.
Assim como eles eu também aguardava ansioso por esses momentos.